Ana Paula

Ana Paula Batista dos Santos, de 50 anos, trabalha atualmente no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), em Dourados. Ela é da primeira turma de enfermagem da UEMS, de 1994 a 1998. Fez esse curso e se manteve na profissão.

Nasceu no estado de São Paulo e veio quando criança para o MS, com seus pais e mais três irmãos. Eles estabeleceram residência em Fátima do Sul, lá seus pais tinham uma padaria e a partir dali ela começou a fazer o Ensino Médio (2º grau na época) em Dourados.

Ela estudou o maternal e o ensino fundamental em escola pública e o ensino médio em escola particular, e na época do vestibular conseguiu fazer cursinho em Dourados. “Não era fácil ter esse acesso a um estudo de qualidade na nossa cidade, Fátima do Sul era uma cidade pequena, então eu queria buscar um centro maior para poder estudar e ter chance.

Foi nessa época que ela conheceu as propostas do que viria ser a UEMS e ela tinha uma amiga enfermeira que trabalhava no Hospital de Fátima do Sul, na qual Ana Paula se espelhava muito, motivando o desejo de estudar enfermagem.

Ana Paula e sua amiga Magdali trabalhavam na recepção de uma clínica em Fátima do Sul, começaram a conversar sobre o surgimento do primeiro vestibular da UEMS e viram que aquela seria a chance delas. As duas entraram e se formaram na primeira turma.

“Tinha uma regra instituída dentro da minha família, que precisávamos estudar, para ser alguém, era uma frase que meu pai e minha mãe deixavam para todos os filhos. Ter uma profissão e vencer na vida, para não depender de marido” era a frase de meu pai.

Então quando lançaram o edital para o vestibular ela tinha certeza que ia fazer, essa seria a sua chance. Embora não fosse tão concorrido como é atualmente, eram cerca de três ou quatro candidatos por vaga.

“Meu pai sempre falava, ‘minha filha, você tem que ir para uma universidade pública’, porque a gente vivia do comércio, meu pai vivia da padaria. Então era diferente dos meus outros amigos, que os pais eram médicos, dentistas. Dependíamos de transporte público de Fátima do Sul até Dourados para estudar todos os dias, além do gasto com ônibus, alimentação,escola particular, uniforme, materiais. E era eu e minha irmã. Foi difícil, então a gente valorizava bastante essa oportunidade que tínhamos, poucas eram as facilidades, hoje que temos escolas públicas e várias oportunidades em diversas modalidades como as cotas, não existia isso na época.”

Ana Paula

Reencontro da turma após 20 anos de formados, em 2018 - Foto: Arquivo pessoal

Quando saiu o resultado foi uma festa, ficaram radiantes e famosas na cidade, pois o nome dela e da amiga foram ditos na rádio.

Com a nova Universidade e um curso iniciante, os primeiros acadêmicos superaram muitos desafios, pois no início a estrutura era improvisada, junto a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Os acadêmicos da Uems não podiam se alimentar no Restaurante Universitário, porque era para os alunos da Universidade Federal, então eles traziam lanches e até comida e panela para preparar as refeições na Universidade. Além disso, a situação de transporte era muito precária, pois tinha um ônibus de manhã e outro à tarde apenas. Quando perdiam o ônibus tinham que ir para a rodovia pedir carona.

“Mas era muito bom, era uma turma muito boa, éramos em poucos, mesmo com oferta de 50 vagas na época, começamos com cerca de 30 pessoas. Aos poucos foram desistindo e formamos em 15. Mas foi fantástico, foi muito bom. Era uma turma que tinha uma mescla de pessoas mais maduras e alguns jovens, então aprendíamos com os mais experientes, eles cuidavam dos que eram mais jovens, era muito bom”.

Ela se casou com um egresso de enfermagem, ele da terceira turma, juntos têm três filhas, ela já foi professora concursada na universidade e seu marido também é professor e atual coordenador do curso de Enfermagem, Jair Rosa dos Santos.

A Universidade faz parte de sua história pessoal e profissional, além de lhe trazer maturidade e realização.

Ela trabalhou no Estado de Pernambuco, seu primeiro emprego, lá aprendeu as “ habilidades” da Enfermagem. Voltou para o MS, prestou vários concursos, tendo êxito em todos que prestou. Optou pelo município de Dourados. Trabalhou na Saúde pública por vários anos, quatro anos no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), depois ficou dois anos na Atenção Básica de Saúde e há dois anos retornou para o Serviço de Urgência.

O que a despertou para trabalhar lá foi conhecer esse trabalho de perto quando era Diretora de Atenção à Saúde, na Secretaria de Saúde municipal. E após esse período foi trabalhar como diretora do PAM (Pronto Atendimento Médico), não tinha UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na época, então ali era urgência e emergência do município de Dourados.

Ana Paula

Ana Paula em atendimento no Samu - Foto: Arquivo pessoal

Ela recorda que antigamente as pessoas tinham medo da urgência, mas ela começou e achou muito interessante e satisfatório, além disso o seu esposo trabalhou como enfermeiro na emergência por anos em diversos lugares, então ela o ouvia falar e ali começou a se despertar. Trabalhava no PAM e quando surgiu uma vaga para o SAMU, decidiu que queria a experiência.

Ela teve como grande incentivador um médico que a conhecia e quando entrou teve muito apoio dos colegas do SAMU, aprendeu e aprende muito com eles.

"Aí me apaixonei, falei é isso que eu quero! Depois de tantos anos de formada, trabalhando em tantos lugares: em hospital, em unidade de saúde, ministrando aulas… eu falei '‘eu quero isso, eu quero a urgência e emergência!’' Foi onde me encontrei profissionalmente. Quando estamos no SAMU, atuando na urgência e emergência, as ocorrências são diversas, então aquele chamado, você não sabe o que te espera. Mas sempre realizamos o melhor e a cada dia aprendemos mais.”

Cada chamado é uma surpresa, mas o que a choca e a deixa emotiva, particularmente como profissional enfermeira, são ocorrências com crianças.

O que a marcou muito também foi o período da pandemia de Covid-19, ela trabalhava na linha de frente e teve uma grande perda, em menos de 24h, os pais José Batista Filho e Maria Mariano Batista morreram de Covid. Fez com que refletisse o quando a vida é importante e o quanto devemos expressar nosso amor aos que amamos.

Ela finaliza ressaltando que ao ingressar na faculdade as pessoas falavam “vocês vão fazer faculdade só para limpar paciente”, e hoje ela vê o que alcançou profissionalmente, além da luta da Enfermagem no próprio país, que vem se destacando e que já cresceu muito.

Ana Paula acreditou que o curso de Enfermagem da UEMS seria a oportunidade de transformar sua vida e isso a levou a atuar em várias áreas: como docente, enfermeira da atenção básica, diretora de atenção à saúde e do PAM, plantonista, e atualmente além de trabalhar no Samu como emergencista e responsável pelo Núcleo de Educação Permanente é empresária, abriu uma empresa própria especializada em treinamentos na área da saúde, direcionados a escolas, empresas, hospitais e público em geral.

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