Tonico Benites

O menino Tonico Benites nasceu em 1971 numa pequena aldeia indígena no interior de MS, lá só havia possibilidade de estudos até o 5ª ano. Já que a cidade mais próxima era longe para continuar os estudos, ele e seus irmãos, assim como a maioria da comunidade, parava de estudar. Suas opções eram fazer trabalhos braçais em fazendas, corte de cana ou ajudar na agricultura da família.

Mas aos 21 anos ele se desafiou a mudar sua realidade, voltou a estudar, fez supletivo e concluiu o ensino fundamental e médio, começou a dar aulas na sua aldeia para as crianças e surgiu uma oportunidade: de cursar Normal Superior na UEMS. Aí foi o ponto de virada, após concluir o curso, ele ingressou no mestrado na UFRJ, lá também fez o doutorado e o pós-doutorado, sendo uma parte cursada na França e na Alemanha.

Tonico Benites

Tendo o ensino médio completo, ele começou a dar aulas como professor leigo na aldeia Jaguapiré, em 1993, para crianças até o 4º ano do Ensino Fundamental. Por não ter a formação necessária, ele não ganhava o salário de professor, mas podia ajudar com os alunos.

A sala improvisada era de sapé, mantida com o apoio da secretaria de educação do município. A área da aldeia era pós-conflito, porque havia a pouco tempo sido reconhecida como terra indígena, mas ainda tinha os problemas de não ser regularizada. Então a maior dificuldade era que o município não podia construir uma escola, pois por não estar regular não se poderia investir dinheiro público ali.

Na época, ele era um pouco de tudo: merendeiro, professor, vigia, diretor. Hoje é uma escola estruturada e oferta até o Ensino Médio. Tonico trabalhou sozinho por três anos, na época trabalhava com turmas multisseriadas, que eram todos os alunos juntos, tinha 80 alunos, totalizando os dois períodos - manhã e tarde. Hoje chega a mais de 400 alunos, têm ensino médio também foi reconhecida como Escola Polo - no período em que ministrava aulas tinha menos de 300 pessoas na aldeia, hoje são mais de mil.

“Foi uma experiência riquíssima, porque eu vi a transformação que aconteceu, isso foi a história da comunidade eu acompanhei, pois quando comecei dar aula não tinha sala de aula por conta do conflito, mas hoje, 30 anos depois, todos os direitos que comunidade tem estão sem respeitados e introduzindo toda estrutura lá dentro”.

Tonico Benites

Formatura no curso de Normal Superior na UEMS - Foto Arquivo Pessoal

Depois que se formou na UEMS continuou trabalhando lá e só saiu do município quando foi para o Mestrado.

Tonico Benites

Ao mesmo tempo que trabalhava era incentivado a estudar, a prefeitura dava capacitações para que ele alfabetizasse as crianças que estavam sem professor, então Tonico começou a fazer o Normal Médio (Magistério em Nível Médio) em Iguatemi, ficava há 60 km da aldeia, ele tinha que sair 7 km da Aldeia para pegar o ônibus. Ele concluiu o magistério em 2000, trabalhou como professor leigo desde 1993 até 2001.

Quando abriu o curso na UEMS, era a sua oportunidade, pois era exatamente para formar professores em exercício para o nível superior. O curso funcionava todo final de semana, então ele se locomovia para Dourados e ficava na sexta e sábado o dia inteiro, 20 horas de aulas. Tonico tinha que se manter por conta própria, nesse período fez várias amizades com outros professores que o apoiavam para ficar na casa deles, pois na época não tinha auxílios e bolsas.

O trabalho e os estudos o sobrecarregavam, mas ele dava conta, mesmo fazendo os trabalhos a luz de vela, ele se esforçava para concluir o curso.

Na época, não havia cotas para indígenas e ele era o único indígena da turma, Tonico passou em 5º lugar na turma de 40 alunos.

Tonico Benites

Ao iniciar os estudos na UEMS ele tinha uma dúvida muito latente: porque o indígena pode estudar só até a 4ª série (5º ano)? Pois em sua aldeia só havia até a 4ª série. O que marcou muito para ele foi que vários professores experientes disseram que teria sim que ter mais professores indígenas, porque o sistema, ao longo da história, excluiu os indígenas, por achar que indígena historicamente não teria essa capacidade de prosseguir nos estudos.

“Esse professor experiente falou comigo que tudo é possível, ou seja, todo professor que tive na época sempre me encorajou, sempre permitiu didaticamente um espaço para repensar, para refletir sobre a educação, história da educação, a forma que foi introduzida na educação escolar na comunidade indígena e por isso a minha monografia final foi sobre educação escolar indígena na comunidade Guarani Kaiowá. Como foi a chegada, qual a dificuldade e qual avanço, tanto do ponto de vista de quem estava levando e na visão indígena também como é como ver a importância da escola, escolarização. Segui até o mestrado e até hoje continuo discutindo a educação escolar indígena,ou seja, a educação para indígena, a educação intercultural”.

Tonico Benites

O curso na UEMS possibilitou com que ele iniciasse discussões sobre educação escolar indígena e intercultural, os professores o ajudavam a refletir sobre a temática e ele levava o tema para conferências e seminários.

Tonico Benites

Atualmente Tonico Benites compõe o quadro de docentes da UEMS - Foto Arquivo pessoal

No mestrado e doutorado estudou a educação escolar indígena e educação intercultural. No pós-doutorado se manteve na área da cultura e estudou os artefatos indígenas em museus da Alemanha e da França. Ele observou vários artefatos no Museu Nacional do Rio de Janeiro e ficou intrigado de porquê aquelas peças estavam ali e porquê elas eram levadas para outros países, então se aprofundou nessa área.

Sou filho da UEMS, por onde ando carrego o nome da Universidade. Ela faz parte da minha trajetória acadêmica.”

Hoje sua filha faz Letras Inglês na UEMS e por conta da história de Tonico, a UEMS se tornou referência para outros indígenas.

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