Mães na pós-graduação da UEMS: o maternar e a pesquisa científica

Mães na pós-graduação da UEMS: o maternar e a pesquisa científica
Dia das Mães

Mães na pós-graduação da UEMS: o maternar e a pesquisa científica

Como a UEMS tem proporcionado as pesquisadoras mães melhores condições para que elas continuem desenvolvendo suas pesquisas

Por: Eduarda Rosa

12/05/2023 08:53

Cursar uma pós-graduação (mestrado ou doutorado) exige muita dedicação aos estudos, então imagine ainda ser mãe durante este período. Ao perguntar para uma mãe sobre quais são os desafios da maternidade, a resposta na maioria das vezes vai incluir as palavras: cansaço, privação de sono e incerteza. Maternar exclusivamente já é trabalhoso, imagine então levar essa grande missão junto aos estudos de pós-graduação. Esse cenário não é incomum, mas ainda recebe pouca atenção das Instituições de Ensino Superior. Pensando nisso, a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) começou em 2022 um acompanhamento detalhado sobre as mães matriculadas nos cursos de Mestrado e Doutorado da UEMS.

O levantamento foi encabeçado pela Divisão de Pós-graduação. Aliar a pós-graduação com a maternidade é desafiador, nesta perspectiva foi levantado as informações acerca de estudantes que ingressaram nos Programas de Pós-graduação da UEMS como Alunas Regulares, nos últimos cinco anos (2018 a 2022). Como resultado da pesquisa sobre mães e a pós-graduação estão sendo estudadas ações para mitigar as dificuldades encontradas pelas alunas.

 

Onde estão as pesquisadoras e mães?

 

Pelas estimativas da Organização das Nações Unidades (ONU), as pesquisadoras tendem a ter carreiras mais curtas e menos remuneradas, seu trabalho sub-representado em publicações de alto nível e muitas vezes preteridas para promoção. Nesta perspectiva, a Setor de Apoio à Pós-graduação (SAPG), Divisão de Pós-graduação (DPG), da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (PROPPI), visando compreender a realidade das mulheres mães na UEMS realiza de forma contínua a aplicação de um questionário on-line voltado a questões de ordem socioeconômica, psicológica e aberto a sugestões de ações para o acolhimento, apoio e permanência de mães no ambiente da Pós-graduação.

A Chefe da Divisão de Pós-graduação, Profa. Dra. Claudia Andrea Lima Cardoso, relata que o questionário on-line foi aplicado para acadêmicas matriculadas como alunas dos Cursos e Programas de Pós-graduação da UEMS, dos anos de 2018-2022 e atualmente enviado aos que solicitaram Licença Maternidade ou estão na condição de Gestante durante o Curso/Programa. Neste questionário são abordadas questões relativas ao apoio nos cuidados com os filhos, conciliação entre a vida familiar e acadêmica e os desafios encontrados nesta jornada, todas as informações coletadas servirão de base para análise e a reflexão de ações de políticas de apoio e permanência de mães no ambiente da pesquisa e Pós-graduação da UEMS.

Do total de 21 respostas, como resultados se pode destacar, de acordo com os relatos, que 75% são mães de um filho/a e 20 % de dois filhos/as, 5% de quatro ou mais, com idades variadas, destacando-se que 62% os/as filhos/as estão ainda na primeira infância, que compreende a fase dos zero aos seis anos, idades onde os cuidados são mais demandados.

 

Equilibrando maternidade, pesquisa e pandemia

 

 

Elizandra da Silva Fialho, de 27 anos, finalizou o mestrado em Zootecnia, na UEMS em Aquidauana, em fevereiro deste ano, ela recebia a Bolsa do Programa Institucional de Bolsas aos Alunos de Pós-graduação (PIBAP), da UEMS. Quando iniciou os estudos tinha um filho, Matheus, e no segundo semestre engravidou da Eloise, que hoje tem 1 ano e 6 meses.

Sua maior dificuldade foi conciliar os estudos com os cuidados do bebê, mas mesmo assim não pensou em desistir e os professores a ajudaram muito em relação às atividades no pós parto. E quando retornou não houve a necessidade de levar seu filho à Universidade, pois as aulas ainda estavam remotas, por conta da pandemia.

“Conciliar o tempo de estudo, trabalho, maternidade e outros afazeres foi bem difícil, mas graças a rede de apoio que tive consegui conciliar. Me sinto muito feliz ao finalizar o mestrado, estou realizada com mais essa etapa na minha vida, pensando em sempre dar um futuro melhor para meus filhos”, ressaltou Elizandra que pensa em continuar os estudos e tentar o processo seletivo do doutorado.

Ressalta-se os dados referentes ao período em que se tornou mãe, no qual 61,9%, ocorreu após o ingresso na Pós-graduação. No que tange às atividades acadêmicas no ambiente da UEMS, 66,7% das mães relatam que “às vezes” deixam de realizar atividades, com prejuízos e faltas, por não ter com quem deixar seus filhos, insta mencionar que 63,2 % destas mães pontuam que seus/as filhos/as permanecem mais de seis horas por dia aos cuidados de familiares, sendo que já houve a necessidade de levar seu/a filho/a, à Universidade para 38,1% delas. Para as mães que necessitam levar seus filhos observa-se que há falta de um espaço seguro e com a infraestrutura adequada, por outro lado, notabiliza-se o importante acolhimento oferecido às mães pelos docentes, orientadores e demais colegas.


 
 

Uma dessas alunas é Fabrícia Emanueli Moreira Dias, de 29 anos, que concluiu o mestrado em Recursos Naturais em março de 2022. Ela engravidou durante o 2º semestre do mestrado, em 2019, e teve o Artur, hoje com quase três anos. Para fazer as atividades teve que pagar babá para cuidar do filho.

Como o nascimento de seu filho foi no começo da pandemia, Fabrícia conta que teve dificuldades majoritariamente relacionadas a problemas psicológicos e físicos no puerpério, “tive que pagar babá para cuidar do meu filho, pois não tinha creche atendendo de forma presencial e precisava estar na faculdade para desenvolver minha pesquisa. Pensei em desistir várias vezes quando começou a pandemia e após ganhar meu filho e a demanda relacionada à saúde e aos cuidados dele serem muito grandes. Como ganhei meu filho na pandemia, as universidades estavam fechadas e só pude voltar fisicamente com atividades do programa 5 meses depois de ganhar meu filho”.

Ela recorda que teve apoio dos seus orientadores que permitiram que ela realizasse reuniões a distância e o programa concedeu 3 meses de prorrogação da bolsa da Capes que ela recebia.

O gerenciamento do tempo foi e é uma dificuldade muito grande para ela, “as demandas de cada área são muitas e várias vezes tive/tenho que deixar algo de lado para atender as prioridades, fora os cuidados com a saúde, tanto do filho quanto na minha. Me sinto muito orgulhosa por ter conseguido apesar de tudo, nunca pensei que seria mãe, fazendo um mestrado e no meio de uma pandemia mundial. Mas graças a Deus e a muito esforço consegui”, ressalta Fabrícia orgulhosa das conquistas.

E ela não parou, entrou no Doutorado no 2º semestre de 2022 e ainda trabalha atualmente como professora do Estado, dando aulas para alunos no Ensino Fundamental e Médio.

Destinar tempo de qualidade para os cuidados com os/as filhos/as para 36,8% das alunas é a principal dificuldade em conciliar a vida acadêmica com a maternidade, seguida pela dificuldade em deixar de realizar as atividades acadêmicas por não ter com quem deixar seu/a filho/a, 31,6% das respostas; e deixar de realizar as atividades por não ter com deixar os/as filhos/as, 21,6%.

Cumpre mencionar que a respeito da desistência da carreira na pesquisa, 80% das respondentes, já questionou desistir da carreira na Pesquisa, sendo que a maternidade seria um dos principais motivos para desistir, desta forma, faz-se necessário a reflexão em ações para o apoio e permanência de mães no ambiente acadêmico da Pesquisa e Pós-graduação.

 

Um mestrado e a primeira filha

 

 

Priscila Rodrigues Simis Sigolo, de 32 anos, está finalizando o Mestrado Profissional em Educação Científica e Matemática (PROFECM), ela engravidou da Diana (que hoje tem um ano e seis meses) no final do primeiro semestre, depois que entrou no mestrado.

Devido às dificuldades de “mãe de primeira viagem”, como ela recorda, pensou em desistir muitas vezes, e na verdade teria desistido se não tivesse recebido a bolsa PIBAP. “Como fui contemplada com a bolsa de estudos ofertada pelo mestrado, caso desistisse, ia ter que devolvê-la (com correção). Esse foi o grande motivo para eu não ter desistido e deixado tudo de lado. Inclusive, sobre a bolsa: precisei fazer estágio. Foi a melhor experiência que tive no mestrado e foi bem engraçado porque a Diana nasceu exatamente uma semana depois do meu último dia de estágio”, lembra a mestranda.

Suas maiores dificuldades foram com a organização do tempo. “Assim que a Diana nasceu, eu não dava conta de fazer nada... como mãe de primeira viagem (e dizem que isso é para todos os filhos) estava me adaptando a uma nova realidade. Parecia que eu fazia coisas o tempo todo e ao mesmo tempo não fazia nada. Tive problema com a amamentação, então esse era um peso no meu consciente que me travava também. E outra... eu não queria perder nada do crescimento da Diana, então, toda vez que eu pegava algo para fazer, parecia que estava roubando tempo da Diana (uma culpa que me corrói ainda... parece que não damos tempo o suficiente para a criança, mesmo sabendo que são necessárias outras experiências pra ela, e mesmo ficando todo o tempo possível com ela)”.

Ela conta que recebeu apoio da coordenação, da secretaria e dos professores, que ficaram super preocupados e foram flexíveis com prazos, a coordenadora do Mestrado inclusive disse que a partir daquele momento, as mulheres que engravidassem passariam a ter o direito a ter a licença-maternidade. “E isso foi ótimo... Eu entrei e fiz disciplinas a distância por conta da pandemia. Ainda não precisei levar a Diana para a Universidade. Preciso concluir o curso até 31 de julho (pedi a prorrogação de prazo de 1 ano, que é possível). Estou finalizando a escrita da dissertação para a defesa”.

A rotina é complexa para ela que é esposa, mãe, dona de casa, professora em um período e meio (dá aulas de matemática no município e no estado), além de ter vida social, estudar, visitar familiares e amigos. Sobra pouco tempo para ela e às vezes vem o estresse, “dificilmente existe um tempo para descanso, e quando ele existe, a culpa vem porque parece que estou deixando alguma coisa de lado. Quando o estresse bate pesado eu choro, converso com quem eu amo, e sigo em frente. E a Diana é uma benção! Ela ama a escola, come super bem, quase não tem ficado doente (o que foi uma dificuldade no ano passado, onde ela ficou praticamente 3 meses doente e foi exaustivo) e dorme bem a noite. É uma criança feliz e amada. Acho que isso faz toda diferença no meu dia-a-dia. Se a Diana estiver bem, está tudo bem!”, finaliza.

 

POLÍTICAS DE APOIO E PERMANÊNCIA DE MÃES

 

A docente Dra. Claudia Andrea Lima Cardoso, Chefe da Divisão de Pós-graduação da UEMS, ressalta que a Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação vem trabalhando na elaboração de ações para mitigar a evasão dos Cursos de Pós-graduação lato sensu e stricto sensu, bem como contribuir para a igualdade de gênero de mulheres que são mães e sua permanência na Pesquisa e Pós-graduação.

Dentre as ações destaca-se uma que já está em andamento que é a premiação para mães pesquisadoras, no edital do III PRÊMIO Talentos da Pós-Graduação (TAL-PG) UEMS 2023, nas modalidades: Prêmio TAL–PG UEMS de Dissertação para mães pesquisadoras em qualquer área do conhecimento, sendo duas premiadas entre todas as inscritas nessa modalidade, independente do Programa; Prêmio TAL–PG UEMS de Tese para mães pesquisadoras em qualquer área do conhecimento, sendo uma premiada entre todas as inscritas nessa modalidade, independente do Programa. (Inserção da Licença Maternidade as bolsistas PIBAP).

“Em discussão para elaboração de propostas e normativas: Auxílio financeiro para contratação de serviços de cuidadora de crianças ou creche em período integral - Auxílio Creche; Ampliação dos Prazos para Licença Maternidade e Paternidade; Divulgação de informativos sobre a temática acerca de temas relacionados Parentalidade e saúde mental para a comunidade acadêmica da UEMS; Flexibilidade de prazos; Acompanhamento contínuo de acadêmicas/Mães na Pós-graduação da UEMS, com o intuito de compreender a realidade e necessidades, com vistas ao aprimoramento de ações com o objetivo de fortalecer e proporcionar visibilidade às alunas no espaço da Pesquisa e Pós-graduação. Nessa perspectiva, a PROPPI tem o papel de fomentar propostas e políticas de ações planejadas para o acolhimento, permanência e igualdade de gênero na Universidade”, destaca Dra. Claudia.

A Divisão de Pesquisa também implantou em 2022 ações efetivas relacionadas a esse tema, como o aumento no período de pontuação do Currículo referente à produção científica para mulheres que tiveram licença maternidade ou adotante, além de um critério de desempate beneficiando alunas, na distribuição de bolsas dos Editais de Iniciação Científica.

A Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação em exercício, Drª. Alessandra Paim Berti, ressalta que objetivando acompanhar as discussões de diversos órgãos de fomento de Pesquisa, Institutos e Universidades brasileiras, “além das discussões a nível internacional, como a Meta 5 presente nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, que trata da Igualdade de Gênero, implantamos políticas permanentes de incentivo às mulheres e meninas na Ciência tanto no Programa de Pesquisa como no Programa de Iniciação Científica, e consideramos que foi um grande avanço, relacionado a esse tema, para a Universidade”, acrescenta Alessandra.

Com colaboração e revisão de Liziane Zarpelon