Projeto integrado por docente da UEMS tem destaque em Portal da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)

Projeto integrado por docente da UEMS tem destaque em Portal da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)
Interinstitucional

Projeto integrado por docente da UEMS tem destaque em Portal da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT)

Iniciativa NAVIO é uma parceria da SES-MS, Fiocruz, Marinha do Brasil e demais entidades

DOURADOS
Por: Rubens Urue

15/12/2023 14:25

 

Projeto integrado pela prof. Dra. Idalina Ferrari, do curso de Enfermagem, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) - Unidade Universitária de Dourados, foi destaque no Portal da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), com uma abordagem sobre a inovadora ação junto a populações ribeirinhas do Pantanal nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A iniciativa entra na esteira de vanguarda global, uma vez que é a única forma de atendimento de saúde fornecido aos ribeirinhos dos Estados mencionados, da região centro-oeste, uma vez que analisa doenças tropicais, dentre as quais, dengue, chikungunya, zika, febre do Nilo ocidental, Mayaro, Oropouche, Covid, Influenza, HIV e HTLV, sífilis, leptospirose, febre maculosa, leishmaniose, doenças fúngicas e parasitoses intestinais. Confira abaixo trecho da matéria veiculada pela SBMT, com os depoimentos do idealizador e coordenador do Projeto NAVIO, prof. Luiz Alcântara, junto com a secretária adjunta de Saúde do Estado do Mato Grosso do Sul, Dra. Christinne Maymone. Ao final, as considerações da profa. Dra. Idalina Ferrari sobre o atendimento às populações ribeirinhas do MS e MT.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz Minas, idealizador e coordenador do Projeto NAVIO, Prof. Luiz Alcântara, junto com a Secretária Adjunta de Saúde do Estado do Mato Grosso do Sul, Dra. Christinne Maymone, participam do estudo indivíduos de 53 comunidades ribeirinhas do lado brasileiro, atendidas nas 5 paradas, durante as 5 viagens, para o Sul do Rio Paraguai – chamada de Tramo Sul: de Ladário, no Mato Grosso do Sul (MS), para Porto Murtinho, no mesmo estado; e das 5 paradas, durante as 5 viagens, para o Norte do Rio Paraguai – chamada de Tramo Norte: de Ladário para Cáceres, no Mato Grosso.

As atividades têm sido realizadas em continuidade aos trabalhos iniciados há alguns anos pela  Marinha do Brasil na fronteira e pantanal, nessa ampliação, possibilitada pela sinergia entre Marinha, SES-MS, FIOCRUZ, universidades do MS, órgãos de pesquisa, entidades internacionais, entre outros apoiadores, iniciou dia 20 de novembro e terá duração de 5 anos, com aproximadamente 30 pesquisadores a bordo de três navios, do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) “Tenente Maximiano”, do Navio de Apoio Logístico Fluvial (NApLogFlu) “Potengi” e do Navio-Transporte Fluvial “Paraguassu”, sob a responsabilidade dos  comandantes Igor Cobellas, Thiago Moret e Jackson Silva, respectivamente. Essa parceria é pioneira com cooperação entre instituições governamentais e científicas, com compromisso com a saúde das populações mais vulneráveis.

Além da pesquisa, há prestação de serviços médicos e odontológicos para comunidades do Paraguai e Bolívia que atravessam o rio para o lado brasileiro. Em relação aos principais desafios que a equipe deve enfrentar ao longo dos 5 anos do projeto, o Dr. Alcântara menciona a descoberta de novos vírus, o desenvolvimento de mecanismos educativos de profilaxia das doenças encontradas, a busca de apoio dos municípios inseridos, bem como dos estados e do Ministério da Saúde para que as populações ribeirinhas tenham toda a atenção e suporte necessários para tratamento das doenças e para a vigilância ativa dos patógenos detectados.

Os dados gerados vão contribuir para aprimorar políticas de saúde e intervenções direcionadas. A integração de informações genômicas, epidemiológicas e climáticas podem orientar as autoridades de saúde na antecipação e resposta a eventos de propagação de doenças. “As ferramentas desenvolvidas a partir da integração desses dados irão proporcionar uma visão holística dos fatores que influenciam a ecologia das doenças. Isso irá permitir prever surtos e implementar medidas preventivas e de controle com maior eficácia. Esse conhecimento é essencial para orientar as ações das autoridades de saúde pública, ajudando a antecipar e responder rapidamente a eventos de propagação de doenças, minimizando os impactos na saúde das populações afetadas, ressalta o pesquisador.

Vigilância genômica para enfrentamento de doenças em comunidades ribeirinhas

O coordenador do projeto explica que a integração da metagenômica com a eco-epidemiologia representa um avanço crucial no campo da vigilância e controle de doenças infecciosas em um contexto de mudanças climáticas. Segundo ele, ao combinar a análise genômica com dados sobre os ecossistemas e o clima, é possível identificar as interações complexas entre os patógenos, seus vetores, os hospedeiros e o meio ambiente em constante transformação. “Compreender essas interações permite adaptar e aprimorar as estratégias tradicionais de vigilância e controle, levando em conta os desafios e urgências trazidas pelas mudanças climáticas. Além disso, essa abordagem inovadora pode lançar luz sobre a emergência e reemergência de patógenos virais em novas regiões, fornecendo informações valiosas para enfrentar as doenças infecciosas que se espalham em um mundo em transformação”, frisa.

A combinação de análises genômicas de alta resolução com dados epidemiológicos e climáticos permite uma compreensão mais ampla das interações complexas entre patógenos, vetores, hospedeiros e o ambiente, especialmente ao considerar os efeitos das mudanças climáticas nessas regiões. Segundo o professor ao integrar dados genéticos e climáticos, o projeto pretende identificar locais prioritários para vigilância, levando em conta o estresse climático que pode aumentar o risco de transmissão de doenças infecciosas. “As ferramentas desenvolvidas a partir desses dados integrados podem ajudar prever surtos com maior precisão e implementar medidas preventivas e de controle mais eficazes”, detalha ao acrescentar que o sistema móvel de monitoramento genômico, instalado em um navio da marinha, permite a coleta de amostras biológicas de indivíduos que vivem ao longo dos rios, capacitando os profissionais de saúde locais para detectar e relatar prontamente casos suspeitos.

Além de contribuir de alguma maneira para tornar estas comunidades sustentáveis, o projeto tem o intuito de melhorar a saúde pública e o bem-estar das comunidades a longo prazo, com planos para gerenciar surtos, melhorar respostas emergenciais e desenvolver estratégias preventivas. “Um plano de ação para gerenciamento e controle de surtos de doenças virais identificadas será desenvolvido, para que se possa responder de forma mais rápida e eficaz às doenças emergentes. O projeto NAVIO é uma abordagem inovadora que combina a metagenômica com a eco-epidemiologia para enfrentar os desafios da vigilância e controle de doenças infecciosas em áreas remotas e afetadas pelas mudanças climáticas. A integração desses conhecimentos pode fornecer informações valiosas para enfrentar as doenças infecciosas emergentes e reemergentes em um mundo em constante transformação”, conclui o Dr. Alcântara.

Ao investir em vigilância genômica, essa colaboração abre portas para intervenções mais precisas e direcionadas, alinhando-se com os avanços necessários para promover a saúde pública e a equidade nas regiões ribeirinhas do Brasil. O projeto, que faz parte do consórcio internacional CLIMADE, conta ainda com o apoio da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA/MS), Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul (SES-MT), Fiocruz MS, LACENs de MS, MT, MG e PR, Universidades Federais de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ouro Preto, Universidades Estaduais do MS e de Feira de Santana da Bahia, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Organização Pan-Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde(OPAS/OMS), Ministério da Saúde, Loccus Solution, Biomanguinhos, Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), Prefeituras de Ladário, Corumbá e Porto Murtinho, Instituto Erasmus de Roterdan (Holanda), Universidade de Stellenbosch (África do Sul) e Universidade de Sidney (Austrália), National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.

Tecnologia móvel para monitoramento genômico em regiões remotas do MT e MS

Um novo sistema móvel de monitoramento genômico pode ser implantado em áreas remotas dos estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, com foco em comunidades vulneráveis, conforme adianta o Dr. Alcântara. Esta iniciativa tem como objetivo fortalecer a prevenção e controle de epidemias, alcançando áreas remotas e locais de difícil acesso. De acordo com o pesquisador, a implementação desse sistema integrado de vigilância, com uso de tecnologias de sequenciamento genético, é crucial para lidar com a detecção e controle de patógenos virais emergentes e reemergentes, principalmente em áreas ribeirinhas desses estados, onde essas comunidades enfrentam dificuldades significativas para acessar cuidados médicos adequados devido à distância geográfica, infraestrutura precária e recursos limitados, expondo-as a diversos riscos à saúde. “Nossa proposta é introduzir um sistema móvel instalado em um navio da marinha para realizar monitoramento genômico itinerante nas populações ribeirinhas desses dois estados, o que vai permitir coletar amostras biológicas de indivíduos que vivem ao longo dos rios, realizar análises genômicas de alta resolução e estabelecer um banco de dados genômico para monitoramento contínuo e vigilância epidemiológica”, justifica.

Os dados gerados serão integrados a informações climáticas e epidemiológicas para identificar locais prioritários para vigilância, considerando o risco de transmissão e exposição a zoonoses emergentes em cenários de estresse. Segundo o Dr. Alcântara, monitorar essas mudanças em populações ribeirinhas é crucial, pois o aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos influenciam a propagação de doenças. “A combinação de dados genômicos e climáticos, presentes e de cenários prováveis futuros, permite a identificação de áreas propensas à emergência de patógenos virais e a detecção de tendências e padrões que antes passavam imperceptíveis anteriormente. Essa análise detalhada dos vírus e seus vetores nos ajuda a prever áreas de risco para doenças infecciosas à medida que as mudanças climáticas se intensificam”, complementa ao dizer que com a análise de nichos específicos tanto para as viroses quanto para seus insetos vetores, é possível identificar regiões onde as mudanças climáticas estão se ampliando, ou irão ampliar o risco de transmissão e propagação de doenças infecciosas.

Pesquisadora da UEMS destaca papel de atendimento às populações ribeirinhas

A UEMS integra o projeto com a presença da profa. Dra. Idalina Cristina Ferrari, do curso de Curso Enfermagem da UEMS/Dourados. "Já trabalho com as doenças que estão sendo investigadas por este projeto, na área de Enfermagem. A UEMS foi inserida nesta ação por intermédio de parceria com o Fiocruz e a Secretaria Estadual de Saúde (SES/MS) e os resultados são muito aguardados pois representam um avanço na área de pesquisa clínica, por exemplo. A equipe é multidisciplinar, com a presença de profissionais de diversas áreas, incluindo biólogos, médicos e farmacêuticos, dentre outros".

Ela ressalta a importância da Marinha no transporte e condução da equipe de profissionais, instituição com a qual a UEMS já formalizou e executou outras importantes parcerias. "Futuramente, a intenção é envolver os discentes da UEMS nesta natureza de missão, uma vez que vivenciar iniciativas como esta, em atendimento às populações ribeirinhas na investigações de doenças causadas por arbovírus (dengue, zika e chikungunya), além de sífilis e hepatites.

De acordo com a docente da UEMS, as ferramentas desenvolvidas a partir desses dados integrados possibilitarão uma previsão mais precisa de surtos e a implementação de medidas preventivas e de controle mais eficazes. O sistema móvel de monitoramento genômico, instalado em um navio da marinha, permitirá a coleta de amostras biológicas de indivíduos que vivem ao longo dos rios, capacitando os profissionais de saúde locais para detectar e relatar prontamente casos suspeitos.

Este texto consta informações veiculadas em matéria publicada no Portal da SBMT.